Entenda por que Copom erra ao manter juros em 15%
Pela quarta vez consecutiva, o Comitê de Política
Monetária (Copom), do Banco Central (BC), decidiu manter a taxa básica de
juros do Brasil (Selic) em 15% ao ano. O anúncio, feito no início da noite
de quarta-feira (10), não surpreendeu, porque a manutenção do índice neste
patamar já era prevista pelo mercado brasileiro e em comunicados anteriores da
própria entidade.
Mesmo sob protestos de movimentos sociais, ao longo de 2025, o Copom realizou sucessíveis aumentos até a taxa Selic alcançar o
maior patamar desde julho de 2006, com prejuízos à economia, custo de vida das
famílias e às contas públicas. “São decisões que ignoram as necessidades
da população e do setor produtivo, mantendo os brasileiros entre os mais
penalizados, no mundo, por juros elevados”, destacou a presidenta da
Contraf-CUT e vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira.
Atualmente, o Brasil lidera o ranking mundial dos juros reais (o
resultado da taxa básica menos a inflação), hoje em 10,09%, superando a Rússia
(8,17%) e a Turquia (6,43%). “Na prática, por manter a Selic tão elevada,
o Copom desvia para o ‘rentismo’ recursos que poderiam ser direcionados à
população, por meio de investimentos em áreas produtivas e que geram empregos”,
reforçou Juvandia Moreira.
Inflação controlada desmonta argumento do Banco Central
O discurso do Banco Central de que os juros altos seriam necessários para
controlar a inflação também não se sustenta nos dados.
Registros do IPCA, principal medidor de inflação do país, divulgado
periodicamente pelo IBGE, apontam que o aumento de preços de bens e serviços
seguem sob controle, desde 2023.
O resultado mais recente, publicado hoje, mostra que o
índice ficou em 0,18% em novembro, acumulando alta de 3,92% no ano. Nos últimos
12 meses, a inflação ficou em 4,46%, portanto dentro do intervalo de tolerância
(de até 4,5%) definido para o país pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), do
qual o Banco Central faz parte.
O doutor em Desenvolvimento Econômico e economista do Dieese, Gustavo Cavarzan,
destaca ainda que o governo Lula caminha para o segundo ano com o menor nível
de inflação média desde o Plano Real.
“Ainda assim, apesar de registrar os menores níveis de inflação dos últimos 20
anos, o país mantém a maior taxa real de juros do mundo, o que traz
consequências negativas para toda a economia. E nós já estamos sentindo. Por
exemplo, o PIB, que no primeiro trimestre deste ano cresceu 1,4% (em
comparação ao trimestre anterior), no terceiro trimestre de 2025 apresentou crescimento de 0,1%,
em comparação ao período imediatamente anterior. Essa desaceleração observa-se
na queda de investimentos e consumo das famílias (principal motor da economia
do país) e no mercado de trabalho que manteve bom desempenho até pouco tempo,
mas começa a dar sinais de desaceleração: o saldo de empregos formais
registrado em outubro foi 35% menor do que o registrado no mesmo mês do ano
passado”, observa, completando que “é urgente que o Copom inicie redução
da Selic”, o quanto antes, caso contrário, a entidade monetária irá contribuir
para rebaixar o dinamismo econômico do país em 2026.
O economista avalia que é preciso que o país faça um “debate estrutural
sobre mudanças no regime de metas de inflação”, atualmente 3%, com tolerância
de 1,5 ponto percentual (p.p), para cima ou para baixo. Portanto, não podendo
ultrapassar 4,5%.
“Esse patamar, para começar, é absolutamente inatingível e cria incentivos para
que o Banco Central atue de forma bastante conservadora na definição da
política monetária, ou seja, no estabelecimento de uma taxa de juros elevada e
proibitiva ao desenvolvimento do país”.
Cavarzan lembra ainda que, por muitos anos, o CMN manteve a meta de inflação em
4,5%, com intervalo de 2 p.p. “Então, antes, a inflação poderia chegar em
6,5%, um nível coerente às características do Brasil. Mas, a partir de 2019,
essa meta foi caindo, paulatinamente, até a atual de 3%, não podendo
ultrapassar 4,5%, o que, para um país periférico e sujeito a interferências de
câmbio, como o nosso, é praticamente impossível de se cumprir”, conclui.
Para prêmio Nobel, Brasil é um sobrevivente da especulação via Selic
Ao contrário da visão do mercado, que apoia as decisões do Copom, o prêmio
Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, afirmou em encontro que participou aqui no país, em março de
2023, que as altas taxas de juros praticadas, ao longo de anos, pelo Banco
Central trouxeram sérios prejuízos para o Brasil.
“Historicamente, vocês tiveram altas taxas de juros que deram desvantagem
competitiva, que vocês têm que superar com empreendedorismo e inovação. A
pergunta é onde estaria [o Brasil] se tivesse uma política monetária mais
razoável. Eu diria que estaria num crescimento econômico muito maior”, disse o
professor da Universidade de Columbia, que também chamou de “pena de
morte” a manutenção do índice em dois dígitos por tanto tempo. “O que
surpreende é que vocês tenham sobrevivido”, completou.
O economista revelou ainda discordar que a taxa básica de juros pode ser
utilizada para o controlar qualquer tipo de movimento inflacionário. “Elevar
juros como maneira de conter a inflação é contraprodutivo, especialmente quando
não endereça a fonte de inflação na atual economia global, que é energia,
comida, problemas de cadeia de produção. Muitos desses pontos já estão sendo
tratados na reação ao mundo pós-pandêmico”, ponderou, ao considerar, em
seguida, que usar a taxa de juros para combater inflações que não são o
resultado de demanda “aumenta pressão inflacionária”, ou seja, puxa os
preços para cima.
Fonte: Contraf-CUT, com edição de SINTRAFI Barretos
