Categoria bancária reforça luta contra violência de gênero
As ruas brasileiras voltaram a gritar no último domingo (7).
Milhares de mulheres se reuniram simultaneamente em mais de 20 estados e no
Distrito Federal, em uma das maiores mobilizações recentes contra o feminicídio
e a violência de gênero. O ato, convocado pelo movimento Levante Mulheres
Vivas, fez ecoar o luto e a indignação após uma sequência de crimes brutais que
reacendeu o debate sobre a omissão das instituições e a insuficiência das
políticas de proteção.
A manifestação integra a mobilização da campanha “21 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violência contra a Mulher”, da qual o Sindicato dos Trabalhadores do
Ramo Financeiro de Barretos e região, a Confederação Nacional dos Trabalhadores
do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e todo o movimento sindical são parte
fundamental. O período, iniciado em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra,
marca uma escalada de denúncias, relatos e mobilizações que, neste ano,
confrontam números que colocam o Brasil no topo das estatísticas globais de
violência contra mulheres.
Segundo o Mapa Nacional da Violência de Gênero, o país registrou,
somente no primeiro semestre de 2025, uma média de quatro vítimas de
feminicídio e 187 vítimas de estupro por dia. No ano passado, 1.492
mulheres foram assassinadas por razões de gênero, o maior número desde a
criação da lei de feminicídio em 2015. A tendência de alta permanece em 2025.
Atos denunciam banalização da violência
Os protestos deste domingo foram marcados por cruzes pretas, faixas com nomes
de vítimas, fotos recentes de mulheres assassinadas por parceiros e
ex-parceiros, além de discursos direcionados ao sistema de Justiça e aos
governos estaduais por falhas em medidas protetivas.
Em São Paulo, a Avenida Paulista foi tomada por cartazes que pediam urgência:
“Não me mate”, “Pare de matar as mulheres”, “Somos todas Catarina, Taynara,
Daniele”. No Rio, o calçadão de Copacabana reuniu centenas de pessoas que
homenagearam funcionárias do Cefet-RJ mortas em um ataque recente. Em Brasília,
a chuva não conteve as milhares que ocuparam a Torre de TV com versos e
performances que clamavam: “Mulheres vivas!”.
A lista de casos recentes: da professora Catarina Kasten, estuprada e
assassinada em Florianópolis, à violência extrema que mutilou Taynara Souza
Santos, atropelada e arrastada pelo ex-namorado, passando por Daniele Guedes
Antunes, morta a facadas pelo marido na frente da filha de 11 anos, tornou-se
símbolo do que especialistas e movimentos sociais definem como uma “crise
nacional de violência de gênero”.
A força da organização e a luta da categoria bancária
Para a categoria do ramo financeiro, a violência de gênero é um problema que
ultrapassa os muros do lar e se manifesta de diversas formas no mercado de
trabalho, desde a desigualdade salarial até o assédio moral e sexual. É por
isso que a luta dos bancários e bancárias vai além das campanhas salariais e se
consolida na defesa de um ambiente de trabalho e de uma sociedade livres de
misoginia.
As bancárias, historicamente, pavimentam conquistas que servem de exemplo. A inclusão
de cláusulas inéditas na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) de 2024, que
explicitamente combatem o assédio moral, sexual e outras formas de violência,
obrigando os bancos a disponibilizarem canais de denúncia com sigilo e
acolhimento humanizado, é um marco de que a organização sindical faz a
diferença.
"O feminicídio é apenas a face mais extrema da misoginia que se manifesta
de inúmeras formas, incluindo o assédio e a desigualdade de oportunidades que
as mulheres enfrentam todos os dias, inclusive no setor financeiro",
afirma Fernanda Lopes, secretária da Mulher da Contraf-CUT. "A
presença massiva nas ruas no domingo reforça que nossa luta não se restringe à
CCT, mas é pela vida e dignidade de cada mulher brasileira”.
Violência digital: a nova fronteira da misoginia
Neste ano, o movimento sindical bancário também direciona parte dos 21 Dias de
Ativismo ao enfrentamento da violência digital, cada vez mais presente na vida
das bancárias. Com 144 milhões de brasileiros nas redes sociais, segundo levantamento
apresentado no workshop da UNI Américas e da Contraf, o ambiente virtual
tornou-se um espaço fértil para ataques misóginos, perseguições e campanhas de
ódio contra mulheres.
Especialistas alertam que a radicalização masculina entre jovens, amplificada
por algoritmos, têm aumentado a circulação de conteúdos extremistas. A
categoria pretende usar suas redes e canais internos para ampliar a
conscientização e exigir regulação mais efetiva das plataformas.
O canal de acolhimento da categoria: Basta! Não irão nos calar!
Diante do cenário de violência, o movimento sindical bancário reforça a
importância de canais de apoio concretos. O programa “Basta! Não irão nos
calar!” é a materialização desse compromisso. Lançado em 2021 pela Contraf-CUT,
o projeto oferece assessoria jurídica e acolhimento humanizado para mulheres
bancárias em situação de violência doméstica e familiar.
Presente em 14 entidades, cobrindo 485 cidades nas cinco regiões do país, o
"Basta!" já realizou mais de 530 atendimentos, resultando em
312 medidas protetivas de urgência, com base na Lei Maria da Penha. O
baixo índice de descumprimento de medidas protetivas (cerca de 1,6%) registrado
pelo programa é um indicador da sua eficácia.
"A união da categoria nas ruas e a consolidação de
programas como o 'Basta!' mostram que a luta contra a violência é uma agenda
permanente e prioritária para o movimento sindical, garantindo que o grito das
ruas seja transformado em ação e proteção concretas para as trabalhadoras do
ramo financeiro”, conclui a secretária da Mulher da Contraf-CUT.
Fonte: Contrfa-CUT, com edição de SINTRAFI Barretos
