Reforma Administrativa é cópia de PEC 32 e abre portas a apadrinhados em cargos públicos
Está em curso na Câmara dos Deputados o maior projeto já
construído para desestabilizar os serviços públicos nos níveis municipal,
estadual e federal e as estatais. Trata-se do Projeto de Reforma Administrativa.
“Não será usada uma vírgula da PEC 32”, foi uma das promessas do deputado Pedro
Paulo, sobre a proposta que foi arquivada em 2021 e que trazia uma série de
medidas negativas para os servidores públicos. Entretanto, o Projeto de Reforma
Administrativa apresentado agora, no início de outubro, contradiz sua fala.
“Os instrumentos propostos — como avaliação de desempenho sem critérios claros,
contratações temporárias e flexibilização de vínculos — são idênticos aos da
PEC 32, apenas com nova roupagem”, apontou a assessoria Syga Estratégia
Comunicação, no relatório “Reforma Administrativa: o ataque silencioso ao
serviço público brasileiro”, produzido à pedido de entidades que representam
servidores públicos (clique aqui para ler na íntegra).
A flexibilização das regras de contratação de funcionários temporários, por até
5 anos, está entre os pontos mais preocupantes da Reforma Administrativa. “É
uma porta perigosa para o apadrinhamento político”, destacou Alberto Ledur,
coordenador-geral da Federação Nacional dos Servidores dos Ministérios Públicos
Estaduais (Fenamp), em entrevista ao Poder 360. “A regra dos 5 anos é
perversa porque o prefeito entra, faz a seleção, pode ficar com os contratados
até o final do mandato. O próximo prefeito já faz o processo seletivo para
substituir. A proposta é engendrada para criar um exército de apadrinhados”,
completou.
Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta nacional da CUT,
observou ainda que a flexibilização tem o poder de desmontar importantes
empresas e serviços públicos.
“As mesmas regras do serviço público são
aplicadas às estatais. Então, ao acabar com o mecanismo de impessoalidade nas
contratações, promovendo a terceirização e o emprego temporário, essa proposta
de reforma administrativa coloca em risco não apenas as carreiras, mas as
empresas e os serviços públicos em todo o país”, alertou. “Portanto, a
promessa de ‘modernização’ e ‘favorecimento da meritocracia’ não se consolida
nessa proposta que foi apresentada pelo GT, pelo contrário”, completou.
Marcha em Brasília, 29 de outubro
Diante do risco iminente de que o Congresso aprove a Reforma Administrativa, movimentos sociais de todo o país realizarão, na próxima quarta-feira, 29 de outubro, em Brasília, a Marcha Nacional dos Serviços Públicos contra a Reforma Administrativa. “Nosso convite é que todas e todos compareçam às ruas, para que a gente dê um recado claro que os servidores e servidoras não aceitam a retirada dos direitos, e que toda a população rechaça qualquer tipo de ataques às estatais e aos serviços públicos”, reforçou Juvandia Moreira.
Supersalários de quem?
Outro argumento para a Reforma Administrativa é acabar com
os supersalários. Mas Alberto Ledur, coordenador-geral da Fenamp, destacou
que "cerca de 70% a 80% do funcionalismo ganha de R$ 5 mil a R$ 7
mil", enquanto os supersalários atingem somente "de 0,3% a 0,6%"
do total do funcionalismo. Ainda, segundo Ledur, já existe um projeto de lei no
Senado (PL 2.721 de 2021) de combate aos supersalários e que só precisa de
maioria simples para aprovação.
Dados de 2024 do Atlas do Estado Brasileiro (Ipea) e de estudos
da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), apontam que os maiores salários estão concentrados no Poder Judiciário
e no Poder Legislativo.
O Brasil conta com cerca de 11 milhões de servidores públicos (menos de 13% do
total de trabalhadores do país), muito abaixo da proporção dos países da OCDE
(20,8%).
Seis a cada dez servidores brasileiros trabalham nas prefeituras (6,5 milhões),
três em cada dez nos governos estaduais (3,4 milhões), sendo que o maior
contingente de servidores municipais e estaduais é formado por professores,
profissionais da saúde e da segurança pública.
O restante (1,2 milhão) são ligados à União (570 mil estão na ativa), sendo a
maioria formada por professores universitários. “Percebam, então, que os
serviços públicos atacados pela pretensa Reforma Administrativa são ligados às
categorias que atendem diretamente à população”, analisou Juvandia Moreira.
Reforma administrativa para quem não é da família
Em nota publicada nesta semana, a Federação Nacional dos
Trabalhadores e das Trabalhadoras do Judiciário Federal e Ministério Público da
União (Fenajufe) apontou que a sogra do coordenador do GT da Reforma
Administrativa, deputado Pedro Paulo (PSD/RJ), ocupa o cargo de
"assistente" no gabinete de um de seus aliados políticos: o deputado
municipal Márcio Ribeiro (PSD).
"Conforme divulgado, a funcionária indicada sequer cumpre jornada laboral
na Câmara. Seu nome consta como sócia de duas empresas, que ficam em um mesmo
endereço, local onde ela foi encontrada pela reportagem e, de fato, mantém
rotina de trabalho. Quando da apuração, a sogra do deputado disse que tinha
cerca de 15 dias que havia estado na Câmara Municipal", disse a entidade
em nota.
"Curioso pensarmos (ou talvez nem tanto) que aquele que se
coloca como principal interlocutor para reformular os serviços públicos, esteja
envolvido em fatos como esses, em que os interesses particulares se sobrepõem
aos princípios da transparência e da moralidade administrativa", completou
a Fenajufe.
Fonte: Contraf-CUT, com informações da CUT, Agência Brasil, Poder 360 e Fenajufe
