Comando Nacional e Fenaban discutem riscos de contaminação de trabalhadores por bisfenol
O Comando Nacional dos Bancários e a Federação Nacional dos
Bancos (Fenaban) debateram nessa quarta-feira (8) os riscos de contaminação por
bisfenol A (BPA) e bisfenol S (BPS), componentes de papéis térmicos utilizados
em impressoras e terminais eletrônicos.
Os possíveis riscos ocupacionais relacionados a exposição aos químicos sobre a
saúde dos trabalhadores foram levantados pela primeira vez em mesa de negociação no dia 25 de setembro, durante o
encontro sobre Evolução da Atividade Econômico-financeira.
“Na ocasião, acordamos em realizar uma nova reunião exclusivamente para debater
o assunto, e que ocorreu hoje”, explicou o vice-presidente da Contraf-CUT,
Vinícius Assumpção. "A prevenção é o melhor tratamento. Como existem
no mercado papéis térmicos sem o BPA e o BPS, a nossa reivindicação é que sejam
tomadas ações que afastem qualquer risco à saúde dos trabalhadores, até que
tenhamos estudos conclusivos sobre os impactos à saúde", completou o
dirigente.
A coordenadora do Comando Nacional dos Bancários, Neiva Ribeiro, acrescentou
que o tema vem preocupando os trabalhadores. "As pautas relacionadas à
saúde são as que mais ganham rapidamente a mobilização nas bases que, por sua
vez, demandam os sindicatos por respostas. Por isso, realizamos esta mesa
hoje”, ressaltou Neiva que também é presidenta do Sindicato de São Paulo,
Osasco e Região (Seeb-SP).
Vinícius Assumpção reforçou que existe um projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional
que proíbe a fabricação e a importação de papéis térmicos que
contenham o BPA e o BPS em concentrações iguais ou superiores a 0,02% de seu
peso. "Trata-se do PL 2844/24, aprovado em junho pela Comissão de
Defesa do Consumidor, na Câmara dos Deputados", completou. Para que
passe a valer, a proposta ainda precisa ser aprovada por outras comissões na
Câmara, além da apreciação do Senado.
Estudos
O vice-presidente da Contraf-CUT também citou um
estudo publicado em 2014 pelo The Journal of the American Medical
Association (Jama), um dos mais respeitados periódicos médicos do mundo. O
levantamento ganhou repercussão na época porque foi o primeiro a investigar de
perto a contaminação pelo manuseio de papeis térmicos, produzidos com o
bisfenol A (BPA), mostrando que somente após duas horas manuseando os
papéis térmicos, sem a utilização de luvas, o químico foi identificado na urina
de todos (100%) os voluntários.
Antes de começar a experiência, 83% dos participantes já apresentavam bisfenol
A na urina, em concentração média de 1,8 μg/L. Depois dos testes, sem luvas,
além de haver o registro de bisfenol na urina de todos os participantes, a
concentração média subiu cinco vezes mais (5,8 μg/L).
A representação da Fenaban destacou que, atualmente, os cinco maiores bancos
trabalham com bobinas a base de bisfenol S (BPS) e não a base do bisfenol A
(BPA).
Desde 2020, a União Europeia proibiu o uso de papéis produzidos
com BPA em países do bloco, que passaram a substituir o químico pelo
BPS. Entretanto, esse segundo componente não está livre de preocupação, o que
fez com que a Suíça se tornasse o primeiro país a proibir, no mundo, tanto o
BPA quanto o BPS na fabricação de papéis térmicos.
Aqui no Brasil, uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal Fluminense
(UFF), em 2023, indicou que o BPS pode ser tão prejudicial quanto o BPA,
especialmente para o coração. “Nós observamos que a combinação da
obesidade com a exposição ao BPS intensifica a hipertrofia e a fibrose
cardíaca, condições que podem evoluir para doenças cardiovasculares graves,
como insuficiência cardíaca”, explicou a doutora Beatriz Alexandre-Santos,
autora do estudo.
"É pensando em cuidar da saúde que podemos dar um avanço e um recado para
a sociedade, para outras categorias, ao adotar medidas de proteção à saúde dos
bancários e bancárias", observou a presidenta da Federa-RJ, Adriana
Nalesso, na mesa de negociação.
Proposta para novo estudo
Ao final do encontro, a representação da Fenaban solicitou
ao Comando Nacional os estudos que foram apresentados e sugeriu incluir outros
entes no desenvolvimento de pesquisas sobre os impactos do BPS na saúde dos
bancários e bancárias.
A representação dos trabalhadores, por sua vez, sugeriu buscar entidades e
pessoas especializadas. “Podemos envolver médicos, pesquisadores,
ministérios, Fiocruz e a Fundacentro. Mas mantemos a nossa reivindicação para a
substituição desse material, ainda que em paralelo à realização de estudos,
porque a melhor atitude sempre será a preventiva", concluiu Neiva Ribeiro.
O bisfenol é utilizado não apenas na fabricação de papéis térmicos, mas também
em plásticos e resinas que revestem embalagens metálicas de alimentos. Em altas
concentrações, pode interferir nos hormônios, por isso é associado a problemas
de saúde como distúrbios reprodutivos, cardíacos, obesidade, mudanças no
desenvolvimento infantil e variedades de cânceres.
Desde 2012, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
proíbe no Brasil a fabricação e importação de mamadeiras produzidas
com bisfenol A.
Fonte: Contraf-CUT