Santander amplia lucros às custas de fraudes trabalhistas, denunciam bancários em audiência pública no Congresso Nacional

 

O Santander Brasil registrou, somente em 2024, um lucro impressionante de R$ 13,5 bilhões, alta de 43% em relação ao ano anterior, e rentabilidade de 17,6%. No entanto, por trás desses números bilionários, esconde-se uma série de práticas que prejudicam tanto trabalhadores quanto o país, alertaram dirigentes sindicais durante audiência pública realizada na Câmara dos Deputados, na tarde de quinta-feira (3). 

O encontro foi convocado pela deputada federal Erika Kokay, e reuniu representantes do movimento sindical bancário e entidades de defesa dos trabalhadores.

Segundo dados apresentados na audiência, desde 2021 o Santander Brasil vem transferindo bancários para empresas do próprio grupo econômico, como F1RST, SX Tools, Prospera, SX Negócios, Corretora Toro entre outras — já são mais de 30 CNPJs distintos. Essa manobra, denunciada como fraude, tem efeito direto sobre os direitos dos trabalhadores e também sobre as finanças públicas.

Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT, detalhou os impactos dessa estratégia sobre a arrecadação fiscal. “Enquanto os bancos arcam com uma alíquota de 22,5% para o INSS patronal, as empresas de tecnologia, onde o Santander está alocando seus empregados, pagam bem menos. A CSLL, que para bancos é de 20%, nessas empresas cai para 9%. E, apenas entre janeiro e agosto de 2024, três empresas do grupo Santander — F1rst, SX e Tools — tiveram isenções que somaram R$ 103 milhões. Desde o início dessa prática, em agosto de 2021, as renúncias fiscais podem chegar a quase R$ 400 milhões”, denunciou.

“É inadmissível que um banco estrangeiro se aproveite de brechas legais para reduzir custos, precarizar empregos e, ainda assim, receber benefícios fiscais enquanto o país luta para garantir direitos básicos à população. O orçamento público está sendo drenado para os super-ricos, enquanto milhões vivem com salários achatados e poucos direitos”, criticou Juvandia.

Além do impacto fiscal, as consequências para a categoria bancária são profundas. Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo e coordenadora do Comando Nacional dos Bancários, explicou que os trabalhadores transferidos deixam de ser protegidos pela Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria bancária, que assegura direitos como a Participação nos Lucros e Resultados (PLR), auxílio-alimentação e refeição, auxílio-creche/babá, além de salários mais elevados. 

“O banco está desmontando a categoria bancária, isolando esses profissionais e tirando deles conquistas históricas. Tudo isso para engordar seus lucros. Que compromisso tem uma empresa que lucra bilhões aqui e, ao mesmo tempo, demite e precariza empregos?”, questionou Neiva.

Ela relembrou que assembleias realizadas com os trabalhadores confirmaram o desejo deles de permanecer sob a representação do Sindicato. “Nossa luta contra as fraudes do Santander é, acima de tudo, uma luta por justiça social e pela valorização do trabalho. Não podemos permitir que um modelo predatório como esse avance, porque ele ameaça não apenas os bancários, mas todo o projeto de país mais justo e igualitário que queremos construir. Essa é uma batalha que deve unir todos que defendem a democracia, a justiça tributária e os direitos trabalhistas”, concluiu.

O processo de precarização também se reflete no fechamento de agências. Dados do Banco Central indicam que o Santander encerrou 301 agências entre 2019 e 2024, uma média de uma agência fechada por semana. No Estado de São Paulo, a redução chegou a 16% no período.

Wanessa de Queiroz, coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE Santander), lamentou que essas decisões ocorram sem qualquer diálogo com o movimento sindical. “Estamos diante de um processo de terceirização disfarçada que ocorre em todo o país. Não há negociação, não há transparência. E quem paga essa conta são os trabalhadores, que perdem direitos, e os clientes, que continuam pagando tarifas cada vez mais altas sem receber o serviço que merecem. Especialmente nas periferias, as pessoas precisam se deslocar longas distâncias para acessar serviços bancários, porque não há mais agência em seus bairros”, afirmou.

Wanessa criticou ainda a falta de responsabilidade social do banco. “Se o Santander cobra tarifas, o mínimo que se espera é prestação de um serviço de qualidade e cumprimento das obrigações fiscais. Continuaremos mobilizados, defendendo o emprego bancário e exigindo que o banco tenha compromisso real com a sociedade brasileira. Não aceitaremos silêncio nem portas fechadas”, frisou.

A audiência também deu espaço para denúncias sobre os ataques aos aposentados do antigo Banespa, hoje sob o Santander. Maria Rosani, presidenta da Afubesp, e Vera Marchiori, diretora da associação, relataram práticas que classificaram como violência patrimonial, institucional e psicológica contra os aposentados.

“Em 2023, houve aumento das contribuições e redução de cobertura dos planos de saúde, comprometendo seriamente a renda e a dignidade de quem construiu a história do banco. O que o Santander está fazendo é abuso de poder, um ataque cruel à dignidade humana, sobretudo dos idosos”, denunciou Maria Rosani.

Embora tenha sido convidado a participar da audiência, o Santander não enviou representantes para prestar esclarecimentos.

Fonte: SINTRAFI Barretos, com informações de Seeb/SP