Banco Central dificulta vida das famílias brasileiras com nova elevação de juros
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC)
anunciou, na útima quarta-feira (18), sua decisão de elevar a taxa básica de
juros do país (a chamada Selic) em 0,25 ponto percentual. Com isso, o
índice passou de 14,75% para 15% ao ano - maior patamar já praticado
pela entidade desde maio de 2006. Com esse nível, o Brasil praticamente empata
com a Rússia (um país que está em guerra desde fevereiro de 2022) na primeira
colocação do ranking mundial de juros reais (a diferença entre a taxa Selic e a
inflação projetada).
"Os juros altos desestimulam os investimentos e o consumo, cenário que
impacta no mercado de trabalho. O Brasil estaria gerando muito mais vagas
de emprego, de qualidade, com salários melhores, não fosse essa política
monetária do Banco Central", explicou a presidenta da Confederação
Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta
da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira.
O movimento sindical bancário vem alertando para os impactos das decisões do
Copom sobre o aumento do endividamento da população, do Estado Brasileiro e das
empresas, uma vez que a Selic influencia os juros cobrados em todo o sistema
financeiro e nos títulos públicos, que têm sua rentabilidade atrelada à taxa
básica de juros.
Famílias e Estados mais endividados
O ciclo mais recente de elevação gradual da taxa Selic começou em 2021, mas foi
em setembro do ano passado que as elevações foram seguidas e aceleradas,
iniciando com uma alta de 0,25 ponto, uma de 0,5 ponto, três de 1 ponto
percentual, uma de 0,5 ponto e, agora, com 0,25 p.p.
Ao analisar esse quadro, o economista do Dieese, Gustavo Cavarzan, observou que
houve um forte aumento dos juros cobrados, no período, pelo sistema financeiro.
“Um exemplo são os juros cobrados à pessoa física (ou seja, para a população em
geral), que passou de uma média de 36% ao ano, em 2021, para mais de 56% ao
ano, em 2025", completou.
O economista ainda aponta que, o aumento de 0,25 p.p. na Selic, decidido hoje
pelo Copom, irá gerar um gasto anual adicional ao governo de R$ 12,2 bilhões.
Mas que, nos últimos 12 meses (concluídos em abril de 2025) o governo
gastou R$ 928,4 bilhões com os juros da dívida - o equivalente a 7,71% do
PIB.
“Esses quase R$ 1 trilhão drenados da União para os juros com os títulos da
dívida pública equivalem a mais de cinco vezes o orçamento para a Educação e
mais de três vezes os recursos para a Saúde”, arremata o secretário de Assuntos
Socioeconômicos da Contraf-CUT, Walcir Previtale. "Por isso que a classe
trabalhadora, organizada pelo movimento sindical, tem se manifestado
reiteradamente contra a política de juros altos do Banco Central", pontuou
o dirigente.
Um jogo em favor da financeirização
Para justificar a Selic em níveis altíssimos, na decisão desta quarta-feira
(18), o Comitê de Políticas Monetárias do Banco Central apontou o acirramento
das tensões geopolíticas e as incertezas internas em relação à política fiscal,
além do mercado interno aquecido.
Conversamos com Ladislau Dowbor, economista, professor titular de pós-graduação
da PUC-SP e autor de “A Era do Capital Improdutivo”. Ele destacou que o
Brasil é refém da financeirização, termo que define a influência do setor
financeiro na economia, e que valoriza mais o capital em detrimento das
atividades produtivas e dos ganhos reais para as famílias.
"Com isso, grande parte do dinheiro que as famílias e o setor produtivo
obtêm, a partir do trabalho, é drenado por meio de taxas de juros cobradas no Brasil",
ressaltou. Segundo dados do próprio Banco Central, em fevereiro deste ano,
a taxa média de juros para as famílias e empresas chegou a 43,7% ao ano.
"Na
Europa ou na China, a média anual da taxa de juros é algo entre 4% e 6%.
Nenhuma família aguenta a prática dos níveis do sistema financeiro brasileiro.
Por conta disso, temos cerca de 70 milhões de inadimplentes no país. São
pessoas que já pagaram a conta, mas, em decorrência dos juros abusivos, a
dívida é alongada. Isso é bandidagem do sistema financeiro", reforçou o
professor.
Ladislau calcula que esse sistema de drenagem retira das famílias brasileiras o
equivalente a R$ 1 trilhão (10% do PIB). "Das empresas, são drenados
outros 3% do PIB e do Estado, cerca de 8% do PIB. Se considerarmos os ganhos
com a isenção de impostos sobre lucros e dividendos, que não temos como
calcular exatamente, mais a evasão fiscal, que representa cerca de 6% do PIB,
por baixo, podemos dizer que o sistema da financeirização drena 25% do
PIB, ou seja, um quarto de todos os esforços produtivos do país são captados
por gente que não produz nada", pontuou.
O economista registrou também que a maior parte desses recursos não são nem
capturados por grandes grupos financeiros nacionais, mas sim por grupos
internacionais, que formam o sistema global, como Black Rock, States Street,
Vanguard, JPMorgan e Goldman Sachs. "Esse é o tamanho do desafio hoje: que
o dinheiro volte a ser útil e alimente o processo produtivo", concluiu.
Autonomia do BC em xeque
“Nesta pequena aula do professor Ladislau Dowbor fica claro que estamos diante
e uma batalha. De que lado o Banco Central está? Diante dessas decisões do
Copom, não é do lado das famílias, do setor produtivo, do país! O que nos
exigimos é que a entidade monetária cumpra sua responsabilidade para como o
povo brasileiro. Porque o que realmente temos não é autonomia alguma do Banco
Central, uma vez que, em todas as suas decisões, os únicos beneficiados são
grandes grupos econômicos que drenam dinheiro do trabalhador, do setor produtivo”,
destacou Juvandia Moreira.
“Já se perguntou por que, no Brasil, a gente
compra um carro, mas paga dois para os bancos, em taxas de juros? Isso é
reflexo dessa política monetária”, pontuou a presidenta da Contraf-CUT.
Fonte: Contraf-CUT