28/4: Dia em Memória das Vítimas de Acidentes de Trabalho tem foco na saúde mental

 

A data era 28 de abril de 1969. Uma explosão em uma mina nos Estados Unidos deixou 78 trabalhadores mortos. A tragédia marcou a data como o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho, instituída pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes de Trabalho. 

“É fundamental que a sociedade reconheça a gravidade da situação de saúde dos trabalhadores. A data serve para dar visibilidade e fortalecer a luta ambientes laborais mais seguros e saudáveis, e para garantir que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados e protegidos, para que tais perdas humanas não voltem a acontecer e jamais sejam toleradas e ‘naturalizadas’ pela sociedade, pelos empregadores e pelos governos, como se isto fosse normal; fosse ‘inerente’ ao trabalho; fosse o ‘preço do progresso’, e outras falácias”, destaca o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Ramo Financeiro de Barretos e região, Marcelo Martins.

O SINTRAFI Barretos participa todos os anos de atividades para marcar o dia, seja presencialmente nas agências, seja com informações e ações nas redes sociais.

Dados

No Brasil, a cada 50 segundos, um acidente de trabalho é notificado ao INSS. Entre 2012 e 2022, 6,7 milhões de acidentes do trabalho foram notificados no país, o que gerou cerca 2,3 milhões afastamentos acidentários. Esses acidentes resultaram em 25.492 mortes, equivalentes a aproximadamente uma morte a cada 3 horas e meia. São trabalhadores vitimados pela violência do trabalho.

Outros levantamentos, também com base em dados do INSS e consultas realizadas pela Contraf-CUT, apontaram que os bancários estão entre as categorias com os mais altos índices de adoecimento mental. Em 2024, eles representaram 55,9% dos afastamentos acidentários na categoria e 51,8% do total de afastamentos previdenciários.

No entanto, esses números se referem apenas aos casos efetivamente notificados, o que significa que os números podem ser ainda maiores.

"Mesmo subnotificadas, as doenças do trabalho que acometem os trabalhadores do ramo financeiro são um alarmante sinal de um sistema de organização do trabalho que adoece muito mais que outras categorias. Grave também é o fato de muitos deles permanecerem trabalhando mesmo adoecidos, além de que é muito significativo o número de funcionários de bancos públicos e privados, e também de demais instituições financeiras, vivendo a base de remédios, como antidepressivos e ansiolíticos, voltados ao tratamento dos transtornos mentais”, acrescenta Marcelo Benedito, secretário de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato. “Já passou da hora de os bancos serem responsabilizados por esta prática agressiva e criarem um ambiente de trabalho que realmente respeite o ser humano”, completa.

Novos tempos, novas demandas

Enquanto os acidentes físicos são mais visíveis, os riscos psicossociais, como estresse crônico, assédio moral e jornadas exaustivas, ganham destaque como ameaças silenciosas à saúde mental e à produtividade e práticas antissindicais.

No Brasil, a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) do Ministério do Trabalho, atualizada recentemente, estabelece diretrizes gerais sobre segurança e saúde no trabalho, incluindo a obrigatoriedade de as empresas avaliarem e mitigarem todos os riscos ocupacionais, inclusive os psicossociais, ou seja, ela prevê que as empresas devem incluir a análise de riscos psicossociais em seus Programas de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), mas muitas ainda negligenciam essa obrigação.

Especialistas apontam que a aplicação dessa norma apresenta um desafio, pois não se trata em avaliação individualizada de trabalhadores e sim das relações de trabalho que têm causado adoecimento e mortes, especialmente em ambientes com alta pressão por resultados.

Diante disso, a Fundacentro incluiu em seu calendário de cursos e eventos o tema "Novidades nas NRs – Gestão de Riscos Psicossociais". O objetivo é promover estratégias que abordem os fatores de risco para a saúde mental no trabalho, conscientizando empresas e profissionais sobre a importância de adotar uma abordagem preventiva e mais eficaz nesse tema.

Responsabilidade e ação social

A saúde mental dos trabalhadores e das trabalhadoras tem se tornado um tema cada vez mais urgente nas pautas do movimento sindical. Para a secretária de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora da CUT, Josivânia Ribeiro, é fundamental que haja uma fiscalização mais rigorosa sobre o cumprimento da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), especialmente em relação à cobrança excessiva, ao assédio e às jornadas prolongadas, fatores que têm contribuído significativamente para o adoecimento psíquico da classe trabalhadora.

“Também é preciso que haja mais campanhas de conscientização para romper o tabu em torno da saúde mental no ambiente corporativo e, fundamentalmente, que o tema seja sempre prioridade nas negociações coletivas”, destaca Josivânia.

Avanço na Campanha dos Bancários 2024

É válido destacar que a categoria teve uma conquista importante na Campanha 2024. Os bancos sempre trataram o assédio moral como ‘conflitos no local de trabalho’, inclusive esse era o nome da cláusula que instituiu o instrumento de combate ao assédio. Era uma forma de afirmar que o problema é do gestor com o subordinado, e não algo institucionalizado na empresa.

Nesta Campanha, finalmente o movimento sindical conseguiu que eles mudassem o nome da cláusula para ‘mecanismo de combate ao assédio moral e sexual e outras violências relacionadas ao trabalho’. Isso é um avanço, pois sabemos que o assédio é pensado em consultorias, IA, neurolinguística, resulta de mecanismo para ‘motivar’ os empregados a produzir, bater metas e entregar resultados, e também em mecanismos de avaliação dos trabalhadores.

Para o SINTRAFI Barretos, falar sobre saúde mental é falar sobre direitos, dignidade e condições decentes de trabalho. Por isso, seguir fortalecendo os espaços de diálogo, de formação e de reivindicação por medidas concretas é essencial para proteger quem move a economia do país: os trabalhadores e trabalhadoras.

Fonte: CUT, com edição de SINTRAFI Barretos