Itaú trata seus trabalhadores como descartáveis e amplia terceirização da Central PJ
Em março, o Sindicato dos Bancários de Barretos e região
divulgou matéria em que o Sindicato de São Paulo, Osasco e região
denunciava que a terceirização da Central PJ (produto Cartões) havia
começado. Agora, as equipes Empreenda, Pro e Top Business dessa mesma central
de atendimento também estão passando por esse processo, com um prazo de
realocação de até 60 dias. Ao todo, 350 bancários estão com o emprego em risco.
Os comerciais na TV falam muito sobre o futuro, mas pais e mães de família
estão aterrorizados com o presente e com a maneira como o Itaú está conduzindo
esse processo. Muitos trabalhadores envolvidos na terceirização em andamento
tem procurado pelo movimento sindical bancário, reclamando das ‘vagas
fantasmas’ no portal e da falta de iniciativa do RH em realizar a realocação.
‘Devastação, angústia e ansiedade’
A notícia da terceirização das áreas pegou os bancários de surpresa. Segundo
eles, não houve nenhum comunicado prévio. “A palavra que descreve tudo o que a
gente está vivendo é ‘devastação’, pela forma que o banco conduziu tudo isso, e
pela forma como foi falado para nós”, relata um bancário de uma das áreas que
será terceirizada.
“A gente viu o que aconteceu nas outras áreas que foram terceirizadas, e o
mínimo que o banco deveria fazer é se posicionar sobre planejamento ou
remanejamento, mas o banco ficou calado. Tudo o que chegou pra nós foi fofoca,
‘radio peão’. Quando questionávamos nossos líderes, ninguém sabia o que iria
acontecer. Isto gerou um sentimento de ansiedade, de angústia. O banco poderia
informar com mais antecedência, para a gente se preparar para uma possível
realocação por meio do processo interno. Um banco que investe tanto em
publicidade, em marketing, que diz que acolhe os funcionários, mas na realidade
não é o que acontece”, desabafa o trabalhador.
Uma pesquisa no Gupy revela várias vagas abertas ao mercado, como analista
administrativo, de engenharia de tecnologia, de negócios digitais, de operações
no atacado, entre outras. No LinkedIn, a situação é semelhante, com posições
para analista de produto, de comunicação, de recursos humanos, jurídico,
estratégia de negócios e muitas outras.
É sabido que a grande maioria dos trabalhadores é altamente qualificada e
possui graduação, pós-graduação e MBA em diversas áreas. No entanto, o banco
frequentemente oferece apenas vagas para o setor comercial.
Por que o Itaú está terceirizando?
A terceirização irrestrita, permitida pela Reforma Trabalhista durante o
governo Michel Temer, resultou em vários impactos negativos para os
trabalhadores e o mercado de trabalho. Ela permite que as empresas contratem
trabalhadores terceirizados para qualquer atividade, incluindo as
atividades-fim. Isso leva à precarização das condições de trabalho, já que os
terceirizados geralmente recebem salários mais baixos, têm menos benefícios e
menor estabilidade no emprego.
De acordo com estudo da CUT, em parceria com o Dieese, trabalhadores
terceirizados ganham, em média, 25% menos do que os empregados diretos – e no
setor bancário chega a ser 70% menos –; têm jornadas maiores (trabalham em
média 3 horas a mais por semana) e ficam menos tempo em cada emprego (em geral
saem antes de completar três anos, enquanto a média de permanência do
funcionário direto é de 5,8 anos).
Além disso, a terceirização em larga escala dificulta a organização sindical,
pois os trabalhadores terceirizados muitas vezes estão espalhados por
diferentes empresas e locais de trabalho, o que enfraquece a representação
sindical e a capacidade dos trabalhadores de negociar melhores condições de
trabalho e salários.
Os Sindicatos negociaram terceirização com o banco?
Não. Os Sindicatos se opõem veementemente à terceirização no setor bancário e
nunca negociaram essa prática com as instituições financeiras. As
entidades acreditam que o verdadeiro trabalho bancário é realizado por aqueles
que fazem parte integral do banco, pois a terceirização pode comprometer a
qualidade do serviço aos clientes e as condições de trabalho e direitos dos
bancários, essenciais para o funcionamento eficaz do sistema financeiro.
O diretor do Sindicato dos Bancários de Barretos e região, Marco Antônio Pereira, ressalta que a entidade vem há tempos denunciando as tentativas de terceirização impostas pelos bancos, que precariza completamente as relações e condições de trabalho, e que a atitude do Itaú de terceirizar também parte da Central PJ reforça a importância de os bancários manterem-se associados ao Sindicato e participarem das atividades e mobilizações, a fim de deixar claro que são contra a terceirização.
“Seguimos organizados e insistindo na defesa desses trabalhadores até que o banco interrompa este movimento que desestrutura carreiras, reduz salários, causa separação entre os trabalhadores e, com isso, enfraquece os direitos conquistados na convenção coletiva", destacou Marquinho.
Fonte: Seeb/SP, com edição de Seeb Barretos